NOTA PRÉVIA: "A presente edição, em confronto com a anterior, publicada em Janeiro de 2004, contém as alterações que o Decreto-Lei n.º 59/2004, de 19 de Março, introduziu nos artigos 508º e 510º, relativamente aos limites de indemnização, quando não haja culpa do responsável, pelos danos de que esses dois preceitos se ocupam." In Código Civil Português

quarta-feira, novembro 01, 2006

Santinhos e anjinhos...

São quase duas da manhã. Aproveito o último dia do mês para fazer algumas das coisas que sei que devia ter feito ao longo do mês e penso, sofregamente, em tantas outras que queria deixar encerradas no mês de Outubro. E quase sempre assim todos os "trintas" e "trintas e um", como se o dia seguinte já não fosse igual... só por começar a contagem de novo.

Pouco passa das nove da manhã. Acordo com a campainha. Não é correio, não são vendas, bolas!, é feriado. Roupão vestido, elástico a disfarçar a falta de escova no cabelo, mão a rodar a maçaneta e... um grito estridente: "Bolinhos! Bolinhos"!!! Uma gargalhada! E abre-se na mente a gaveta dos dias em que não havia escola, mas Todos os Santos nos levantavam da cama antes dos pais e íamos para a rua acordar quem nos desse guloseimas e, às vezes, moedas de 25 e, com sorte, 50 escudos. Era na rua que encontrávamos, no feriado, os colegas da escola... preciosos conselhos sobre as "melhores" casas e as que não abriram a porta, apesar dos anjinhos lhe baterem à porta.

Não é todos os dias que anjinhos-diabretes nos batem à porta. Hoje, tocam a 100 à hora, alguns de bicicleta, com mochilas desportivas repletas de chocolates e pastilhas e um "queremos bolos" faz a ver do tradicional pregão que nos convertia em Santos. Procuram os melhores doces: os mais coloridos, por isso tenho as caixas de smarties e os kit-kats em punho sempre que é primeiro de Novembro.

Há 10 minutos, a campainha soou. Sorriso receoso, casaquinho de malha, carrapito na cabeça, não mais de cinco anos. Uma estreante! Saquinho de papel aberto, com rebuçados do Doutor Bayard (não sei que é assim que se escreve, nunca olhei para eles, porque só a minha tia de 70 e muitos e os meus "amigos do lar" é que gostam deles"!!!!) e umas passas secas. Do outro lado do passeio, o incentivo... Não, não eram os velhos colegas da escola, mas os pais... talvez com pouco mais da minha idade e um irmão mais novo que, bebé de colo, vai ter que esperar por futuros feriados dos Santos para ganhar doces. "Bolinhos, bolinhos!", disse baixinho, abrindo o saco à minha frente. Não é costume, mas trouxe-lhe a travessa com todas as guloseimas, baixei-a à sua frente e pedi-lhe que escolhesse: "Tira aquele de que mais gostares e leve um outro para o mano". Surpreendentemente, os olhos não foram nem para os smarties nem para os chocolates. Sem hesitar, apontou para uma broa castelar e sorriu. E, para o mano, outra igual, que pegou com cuidado.
E disse obrigada! E deu-me um beijinho!

Não é todos os dias que todos os santos se unem para nos mostrar a felicidade da partilha. Hoje, senti pela primeira vez com este pequeno anjo que descobriu a magia de um dia de bolinhos em que a ansiedade cresce quando alguém, subitamente, nos oferece doces, que a dádiva é tão ou mais recompensadora. Houve alturas em que acreditei que os "bolinhos" iam acabar em breve... Ao ver os miúdos na rua esta manhã, quis acreditar que não. Porque é uma sorte ainda haver anjos que nos batem à porta e, por um dia, um dia só, fazem de nós os maiores santos do mundo!

Faz hoje dois dias que uma anjinha doce e ternurenta chegou ao nosso mundo, enchendo de felicidade o dia de Todos os Santos dos seus babados pais! Que daqui a uns anos, Filipa, possas ainda conhecer este dia mágico de todas as crianças que é o primeiro dia dos tempos frios, este primeiro de Novembro.