Menos ais…
“Se tem remédio por que te queixas? Se não tem, por que te queixas?”
O provérbio faz parte da sabedoria milenar chinesa e descobri-o ao ler um artigo sobre a “Inutilidade do Sofrimento”, que a psicóloga espanhola María Jesús Ávala Reyes garante que acontece em 95% das nossas acções quotidianas. Sofrer por um golo fará seguramente parte da percentagem!
Mas num país que vai sobrevivendo aos “ais Jesus”, o futebol conseguiu superar o desafio de “menos ais…” e de forma brilhante. Com muito menos ais, ainda que com “sofrimento” (seja lá o que a psicóloga nuestra hermana acredita), os jogadores chegaram há pouco a Lisboa sob o signo dos heróis.
Sofrer por antecipação é habitual... “Não vamos passar da primeira fase!”, “Já perdemos” são à partida as quase certezas de um povo que deixou de acreditar nas estatísticas que o colocam na cauda da Europa numa série de padrões de qualidade de vida. Mas, quando nos falham todos os outros heróis, sabemos agarrar-nos àqueles que nos conseguem colocar à frente de eternos rivais históricos, como os espanhóis ou os ingleses. E acreditem... não é só no futebol, há por aí muitos... aos quais deveríamos manifestar igual orgulho.
E se Portugal não tivesse passado da primeira fase? Com remédio ou sem ele, de certeza que não deixaríamos de nos queixar… De tudo e de nada, talvez só nos esquecíamos mesmo de nos queixarmos de nós próprios! Ontem, gostei de ver jogar a selecção. Porque a perder por 3-0, deixou os queixumes de lado e caiu aos pés de uma Alemanha vitoriosa, mas de uma forma que só os vencedores sabem demonstrar. Que as vitórias e derrotas da selecção sirvam de exemplo aos “muitos ais” dos portugueses. E que os 95% de sofrimento “inútil” seja plenamente justificado com um honroso lugar em cada um dos nossos pequenos campeonatos.
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